• Hindi
  • Sanskrit
  • English
  • Dutch
  • French
  • Portuguese
  • Introcduction
  • Chapter 1
  • Chapter 2
  • Chapter 3
  • Chapter 4
  • Chapter 5
  • Chapter 6
  • Chapter 7
  • Chapter 8
  • Chapter 9
  • Chapter 10
  • Chapter 11
  • Chapter 12
  • Chapter 13
  • Chapter 14
  • Chapter 15
  • Chapter 16
  • Chapter 17
  • Chapter 18
  • Epilogue
  • 40 Verses
  • Gita in Portuguese

    Chapter 13

    [Home]

    A CRIAÇÃO E O CRIADOR*

     

    TEORIA DA CRIAÇÃO

     

    O Senhor Krishna disse: Ó Arjuna, este corpo físico, um universo em miniatura, pode ser chamado de campo ou criação. Aquele que conhece a criação é chamado o criador (ou o Espírito, Atma), pelos videntes da verdade (13.01).

     

    Qualquer coisa que está aqui no corpo está, também, no cosmos; seja o que for que esteja lá é o mesmo aqui (KaU 4.10). O corpo humano, o microcosmos, é uma réplica do universo, o macrocosmo. O corpo é chamado de campo das atividades para a alma. O corpo ou criação é diferente da alma ou do Criador. Para experimentar esta diferença é que explica aqui o conhecimento metafísico.         

     

    Ó Arjuna, saiba que Eu sou o criador de todas as criaturas. Eu considero o verdadeiro entendimento, de que tanto o criador como a criação são o conhecimento transcendental (13.02).

     

    O corpo (ou criação), e Espírito (o criador) são distintos um do outro. Ainda assim, o ignorante não é capaz de distinguir entre os dois, e qual o conhecimento é o verdadeiro conhecimento, o qual nos torna aptos para fazer uma clara distinção entre o corpo e o espírito. O corpo é chamado o campo (ou o meio) das atividades do Espírito. O corpo humano é o meio pelo qual a alma individual desfruta o mundo material, ficando confusa, e no  final alcança a liberação. A alma dentro do corpo sabe de todas as atividades do seu próprio corpo, isto é, por tanto, chamado de o conhecedor do campo de atividades. A Superalma conhece todos os corpos, enquanto a alma individual conhece apenas seu próprio corpo. Quando alguém entende claramente a diferença entre o corpo, a alma individual dentro do corpo, e a Superalma, diz-se que se tem o conhecimento real.

      

    O que é a criação; como ela é; quais são as suas transformações; em que lugar a criação se origina; quem é o criador, e o que é o Seu poder? brevemente, escute todas estas coisas de Mim (13.03). 

     

    Os sábios têm, separadamente, descrito a criação e o criador em diferentes caminhos nos hinos védicos e, também, nos conclusivos e convincentes versos de outras escrituras (13.04).

     

    O Gita também esclarece a verdade de outras escrituras. Todas as escrituras, bem com os santos e sábios de todas as religiões, coletam a água da verdade do mesmo oceano do Espírito. O ênfase deles varia conforme as necessidades individuais e social no tempo.   

     

    A energia primária material, o intelecto cósmico, “Eu” a consciência ou o ego, os cinco elementos básicos, os dez órgãos, a mente, os cinco objetos dos sentidos e o desejo, ódio, prazer, dor, o corpo físico, consciência e resolução – assim, foi brevemente descrito o  campo inteiro com suas transformações (veja, também, 7.04) (13.05-06).

     

    De acordo com a doutrina do Sankhya (BP 3.26.10-18; 11.22.1016), o Espírito passa por vinte e cinco transformações básicas na seguinte ordem: Ser Espiritual e as seguintes vinte e quatro transformações da Energia Total: mente, intelecto, ondas de pensamento, e a concepção de individualidade; os cinco elementos básicos ou ingrediente rudes, na substância sutil ou grosseira: éter ou substância sutil, ar fogo, água e terra); os cinco objetos dos sentidos: audição, tato, visão, gustação e olfação; os cinco órgãos dos sentidos: orelha, pele, olhos, língua e nariz; e os cinco órgão de ação: boca, mãos, pernas, anus e uretra.             

    O Intelecto Supremo é conhecido por vários nomes, baseado nas funções realizadas no corpo. Ele chama-se mente quanto sente e pensa; intelecto, quando raciocina; onda de pensamentos quando realiza o ato de lembrar-se e vaguear de um pensamento a outro, e de ego quando ele tem o sentimento de atente executor e individualidade. Os sentidos sutis consiste em todos os quatro: mente, intelecto, onda de pensamentos, e ego. Eles são as impressões kármicas que atualmente tomam a decisão final com a ajuda da mente e do intelecto. Quando o poder cósmico realiza as funções do corpo, ele é chamado de bioimpulso (força vital; Prana). O Espírito Supremo ou Consciência manifesta-se em si mesma tanto como energia e matéria. Matéria e energia nada mais são do que formas condensadas de consciência. De acordo com Einstein, tanto mente como matéria são energias (prana). Ramana Maharishi disse: a mente é uma forma de energia; manifesta-se em si mesma como o mundo.

     

    AS QUATRO NOBRES VERDADES COMO MEIOS DO NIRVANA

     

    Humildade, modéstia, não-violência, perdão, honestidade, serviço ao guru, pureza de pensamentos, palavras, obras e ações, regularidade, auto-controle, aversão pelos objetos dos sentidos, ausência do ego, constante reflexão sobre a dor, e o sofrimento inerente no nascimento, velhice, doença e morte (13.07-08).

     

       O verso 13.08 do Gita formula o fundamento do Budismo. A contemplação constante e o entendimento de que a agonia e o sofrimento são inerentes no nascimento, velhice, doença e morte, são chamados da compreensão da quádrupla Nobre verdade do Budismo. Um entendimento claro desta verdade é necessário antes de iniciar a jornada espiritual. Um desgosto e descontentamento por menor que seja e a falta de realidade no mundo, e de seus objetos, se transformam numa espécie de prelúdio para a jornada espiritual. Como os pássaros buscam proteção numa árvore quando cansados, de modo semelhante, os seres humanos procuram pela proteção divina após descobrirem as frustrações e a tristeza na existência material.

     

    Desapego dos membros da família, da casa, etc.; tranqüilidade incessante diante desejável e do indesejável, e devoção inabalável, através da contemplação sincera, para Comigo; gostar da solidão; desinteresse por encontros sociais e fofocas; estabilidade na aquisição do conhecimento do Ser, e ver a onipresença do Ser Supremo em todos os lugares – diz-se que isto é o que é para ser conhecido. O que é contrário a isto é ignorância (13.09-11).

     

    O cultivar das virtudes descritas nos versos 13.08-11, irá nos habilitar para percebermos o corpo com as diferenças do Ser. Assim, alcançamos o auto-conhecimento. Portanto, estas virtudes são chamadas de conhecimento. Aqueles que não possuem estas virtudes não podem conseguir o verdadeiro conhecimento do Ser, e permanecerão na escuridão da consciência corporal ou ignorância.

    Quando nos tornamos firmemente convencidos de que Deus por si só é tudo – pai, mãe, irmão, amigo, inimigo, sustentador, destruidor e refúgio – e que não há nada mais elevado do que Ele para alcançar, não se pensando em qualquer outro objetivo, diz-se que se desenvolveu inabalável devoção pelo o Senhor pela sincera contemplação. Neste estado da mente o buscador  e o procurado tornam-se qualitativamente unos a mesma coisa.

               

    O SUPREMO PODE SER DESCRITO PELAS PARÁBOLAS, E NÃO POR QUALQUER OUTRO MEIO.

     

    Eu descreverei plenamente o Ser Supremo - o objeto do conhecimento. Por conhecê-lO alcança-se a imortalidade. É dito que o Ser Supremo, sem princípio (sem começo), não é eterno nem temporário (Veja, também, 9.19, 11.37 e 15.18) (13.12).

     

    No princípio não havia nem seres eternos nem Temporários – nem céu, nem ar, nem dia, nem noite. Não havia nada mais seja o que for do que o Supremo Ser Absoluto (RV 10.129.01; AiU 1.010). O Absoluto está além tanto dos Seres Temporais (controladores celeste; Devas) como o  Ser Eterno (Espírito) (verso 15.18). portanto, Ele não é nem temporário nem eterno. O Ser Supremo ou o Absoluto é também tanto temporário como eterno (verso 9.19), e além do temporário e do eterno (versos 11.37; 15.18), porque Ele está em todo o lugar, em tudo, e além de tudo. Então, o Absoluto é o todo três – não é tanto temporário como eterno, bem como é ambos, eterno e temporário, ao mesmo tempo .

     

    O Ser Supremo possui suas mãos, pés, olhos, cabeças, bocas e orelhas em todo o lugar, porque Ele é todo-penetrante e onipresente (13.13).

     

    Ele é quem apercebe todos os objetos dos sentidos sem os órgãos dos sentidos; independente, e, mesmo assim, sustenta a todos, devido aos três modos da natureza material e, ainda mais, é o desfrutador dos modos da natureza material pela transformação das entidades vivas (13.14).

     

    O Ser anda sem pernas, ouve sem ouvidos, executa muitas ações sem as mãos, sente o cheiro sem um nariz, vê sem os olhos, fala sem a boca, e desfruta todos os sabores sem a língua. Todas Suas ações são, portanto, maravilhosas para aquele que procura Sua absoluta grandiosidade além do que é descrito (TR 1.117.03-040). O Ser Supremo pode ser descrito somente por parábolas e paradoxos, e não de outro modo (veja, também, ShU 3.19). O Ser se expande em Si mesmo como entidade viva para desfrutar dos três modos da natureza material.

    Deus não possui um corpo como um ser comum. Todos os Seus sentidos são transcendentais, ou seja, não são deste mundo. Suas potências são de muitas formas. Qualquer um dos Seus sentidos pode agir num outro sentido (ouvir um cheiro, ver um gosto, etc.; nota do tradutor). Todos os Seus feitos são automaticamente executados como uma conseqüência natural.           

     

    Ele está dentro bem como fora de todos os seres, animados e inanimados. Ele é incompreensível por causa de Sua sutileza. E por causa de Sua onipresença, Ele está muito próximo, residindo na nossa psique interior, bem como longe, na Sua Morada Suprema (13.15).

     

    Ele é indivisível, mas apesar disto mostra-se como existente dividindo-Se nos seres. Ele é o objeto do conhecimento e aparece como o criador (Brahmaa), o sustentador (Vishnu), e o destruidor (Shiva) de todos os seres (veja, também, 11.13 e 18.20) (13.16).

     

    O Planeta Terra mostra-se repartido por muitos paises; alguns países aparecem repartidos em vários estados; alguns estados aparecem divididos em regiões, e assim por diante, de modo semelhante, a Realidade uma aparece como sendo muitas. Estas são divisões aparentes, porque elas possuem a mesma ordem da realidade. O termo “Deus” é utilizado para designar os aspectos Gerador, Controlador, e Destruidor do Ser.

     

    O Ser Supremo é a origem de todas as luzes. Diz-se que Ele está além da escuridão da ignorância. Ele é o auto-conhecimento, o objeto do auto-conhecimento, e está sentado na psique interior como consciência (veja o verso 18. 61) de todos os seres; e Ele é o que deve ser realizado pelo auto-conhecimento (13.17).

     

    Eu sou a luz do conhecimento do mundo. Quem quer que Me siga terá a luz da vida e jamais irá caminhar na escuridão da ignorância (João 8.12). Aquele que conhece o Todo-poderoso como sendo muito mais radiante do que o Sol e que está além da escuridão da realidade material, transcende a morte. Não há outro caminho (YV31.18; SVB 3.08). O Supremo está além do alcance dos sentidos e da mente. Ele não pode ser descrito ou definido por palavras. Os diferentes meios de alcançar o Supremo continuam abaixo:   

     

    Eu, assim, brevemente, descrevi a criação bem como o conhecimento, e o objeto do conhecimento. Conhecendo isto, Meu devoto alcança a Minha Morada Suprema (13.18).

     

    O CONHECIMENTO DO ESPÍRITO SUPREMO, ESPÍRITO, NATUREZA MATERIAL, E AS ALMAS INDIVIDUAIS

     

    Saiba que tanto a natureza material como o Ser Espiritual não têm princípio. Todas as manifestações e as três ordens da mente e da matéria, chamadas de modos ou Guna, nascem da natureza material. A natureza material é dita que é a causa da produção do corpo físico e dos órgãos das percepção e da ação. Espírito (ou consciência) é dito que é a causa da experimentação da dor e do prazer (13.19-20).

     

    O Ser Espiritual  desfruta dos três modos da natureza material pela associação  com a natureza material. O apego aos três modos da natureza material (devido a ignorância causada pelo karma anterior) é a causa do nascimento da entidade viva em bons ou maus ventres (13.21).

     

    O Espírito não é afetado pela natureza material, assim como os reflexos do sol na água não afetam as propriedades da água. O Espírito, por causa da Sua natureza, ao associar-se com as seis faculdades dos sentidos, e o ego da natureza material, torna-se apegado, esquecendo Sua real natureza, realizando boas e más ações, tendo perda da independência e transmigrando como entidade viva (alma individual, Jiva) (BP 3.27.01-03). A entidade viva não conhece a energia ilusória divina (Maya), bem como o Controlador Supremo como sendo sua própria e real natureza. A alma individual é um reflexo na lua do espírito no pote d´água do corpo humano.  

     

    O Espírito no corpo é a testemunha, o guia, o suporte, o desfrutador, e o controlador de todos os acontecimentos (13.22).

     

    Dois pássaros – entidade viva e o Controlador divino – vivem na psique interior na árvore do corpo. A entidade vivia, estando cativada pelos frutos da árvore, se torna apegada pela natureza material, experimentando dor e prazer na gratificação dos sentidos, estando sujeita ao cativeiro e a liberação, enquanto que o Controlador divino, sendo desapegado pela natureza material, permanece livre como uma testemunha e guia (BP 11.11.06; ver RV 1.164.20; AV 9.09.20; Um 3.01.01; ShU 4.06). O Controlador Supremo permanece não afetado, e desapegado pelos modos da natureza material, assim como um folha de lótus permanece não afetada pela água.

    O Espírito é consciente, a natureza material é inconsciente. A natureza material, com a ajuda do Espírito, produz cinco bioimpulsos (força vital; prana), e os três modos. O Espírito, residindo como o Controlador divino no corpo físico, que é a casa com nove portões, e é feito dos vinte e quatro elementos da natureza material, desfruta dos objetos dos sentidos pela associação com os modos da natureza material. O Espírito esquece-se da sua real natureza sob a influência da energia ilusória divina (Maya), sentindo dor e prazer, fazendo boas e más ações, caindo no cativeiro do trabalho, resultado do livre desejo devido a ignorância, e procura por salvação. Quando a entidade viva renuncia os objetos dos sentidos e se eleva acima dos modos da natureza material, ela alcança a salvação.

    A mente, favorecida com poder infinito, cria um corpo para residir e realizar os seus desejos latentes. A entidade viva torna-se, de bom grado, confusa – e sofre como um bicho da seda no seu próprio casulo – e não pode sair daqui. A entidade viva torna-se cativa pelo seu próprio Karma e transmigra. Todas as ações, boas ou más, produzem cativeiro se realizadas com egoísmo. As boas ações são algemas de ouro, e as más ações são as de ferro. Ambas são correntes. A algema de ouro não é um bracelete.

    A entidade viva é como um lavrador que lhe foi dado um pedaço de terra como sendo seu corpo. O lavrador deverá retirar as ervas daninhas da luxúria, ira, e avareza a terra, cultivando a agricultura de um intenso desejo de amor por Deus. Dependendo da intensidade do desejo e do grau da fé, a semeadura da devoção brotará no devido curso do tempo. Esta semeadura deve ser continua e constantemente irrigada com a água da meditação, na forma escolhida de Deus personalizado. A tendência de esquecimento da real natureza das entidades desaparece com o florescer das flores do auto-conhecimento e desapego. As flores sustentam os frutos da auto-realização e visão de Deus, conduzindo para a liberação da reencarnação.

               

    Aqueles que verdadeiramente entendem o Espírito, e a natureza material com os seus três modos (como descritos acima), não voltam a nascer novamente, apesar de seus estilos de vida (13.23).

     

    Alguns percebem a Superalma, em sua psique interior, através da mente e do intelecto, tendo-os purificado através da meditação ou pelo conhecimento metafísico, ou pelo serviço sem egoísmo (13.24).

     

    FÉ E DEVOÇÃO TAMBÉM PODEM CONDUZIR AO NIRVANA

     

    Outros, entretanto, não conhecem o Yoga da meditação; do conhecimento, e do serviço sem egoísmo; mas eles realizam adoração à deidade, com firme fé, amor e devoção, como mencionado nas escrituras pelos santos e sábios. Eles, também, transcendem à morte pela virtude de suas fés firmes, que eles têm nos seus corações (13.25).

     

    Abençoados sejam os que não possuem entendimento, mas apesar disto eles têm fé (Mateus, 21.22). Não é necessário entender completamente a Deus para obter a Sua graça, Seu amor, e para alcançá-lO. Qualquer prática espiritual feita sem fé é como um exercício fútil. O intelecto coloca-se no caminho como uma obstrução para a fé. 

     

    Tudo o que é criado – animado ou inanimado – saiba, Ó Arjuna, que eles nascem da união do Espírito e da matéria (veja, também, 7.06) (13.26).

     

    Aquele que vê o mesmo e eterno Senhor Supremo, residindo como Espírito, igualmente em todos os seres mortais, de fato vê (13.27).

     

    Quando alguém contempla o uno, e o mesmo Ser, igualmente em cada ser, não faz nenhum dano a ninguém, porque considera tudo como o próprio Ser, e, por isso, alcança a Morada Suprema (13.28).

     

    Aquele que percebe que todos os trabalhos (ações) são feitos pelos poderes da natureza material, verdadeiramente entendem, e não consideram a si mesmos como os fazedores (ver, também, 3.27; 5.09, e 14.19) (13.29).

     

    No instante em que se descobre a diversa variedade de seres, e suas diferentes idéias, habitando o Uno, revelando-se somente Neste, alcança-se o Ser Supremo (13.30).

     

    ATRIBUTOS DO ESPIRITO (BRAHM)

     

    Por ser sem-começo, e não ser afetada pelos três modos da natureza material, a Superalma eterna – mesmo que residindo no corpo como uma entidade viva – jamais faz qualquer coisa, nem fica maculada pelo Karma, Ó Arjuna (13.31).

     

    A eterna Superalma é dita como sem atributos, porque Ela não possui os três atributos da natureza material. A expressão “sem atributos” é geralmente confundida com “sem-forma”. Sem-atributos refere-se somente a ausência de forma material, e a característica dita como a mente humana. O senhor possui personalidade incomparável e qualidades transcendentais.    

     

    Assim como o espaço que a tudo interpenetra não é maculado, por causa de sua sutileza, similarmente, o Espírito que habita o corpo não é maculado por ele (13.32).

               

    O Espírito está presente em todo o lugar. Ele está presente dentro do corpo, fora do corpo, bem como ao redor de todo o corpo. Realmente, o Espírito está dentro e fora de tudo o que existe na criação.

     

    Assim como o sol ilumina o mundo inteiro, similarmente, o Espírito dá a vida para a criação inteira, Ó Arjuna (13.33).

               

    De acordo com Shankara, vemos a criação mas não o Criador por detrás da criação, devido à ignorância, assim como uma pessoa na escuridão da noite enxerga a cobra e não a corda que sustenta a falsa noção de uma cobra. Se qualquer outro objeto, que não o Espírito, parece ter existência, ele é irreal como uma miragem, um sonho, ou a existência de uma cobra na corda. O monismo absoluto, que nega todas as manifestações como um sonho do mundo, não é  totalmente verdadeiro. De acordo com os Vedas, Deus é tanto transcendente como imanente num só. A ilustração do mundo como um sonho é uma metáfora que tem em vista apenas ilustrar certos pontos, e não deve ser expandida demais ou tomada literalmente. Se o mundo é um sonho ele é um sonho lindo, realmente, do sonhador cósmico, que deve, também, ser extraordinariamente lindo.

     

    Alcança o Supremo, quem percebe – com os olhos do auto-conhecimento – a diferença entre criação (ou o corpo) e o criador (ou o Espírito), bem como conhece as técnicas de liberação (ver os versos 13.24-25) da entidade viva da armadilha da divina energia ilusória (Maya; Prakriti) (13.34).

     

    O Espírito emite o seu poder (Maya) como o sol emite sua luz, o fogo emite seu calor, e a lua dá os raios refrescantes (DB 7.32.050). Maya é o inexplicável poder divino do Espírito, que não existe aparte do Espírito, o dono do poder. Maya possui o poder da criação. Maya também ilude a entidade viva pela criação da identidade com o corpo, desfrutando dos três modos da natureza material, e esquecendo-se da sua real natureza como Espírito, a base do universo inteiro, visível e invisível. A criação é como uma revelação parcial do poder do Espírito e é chamada de irreal como um sonho do mundo porque ela está sujeita a trocas e destruição. O barro é real, mas o pote é irreal por causa da existência anterior do barro ao pote, conquanto o pote existe e depois é destruído.

    A criação é um projeto natural sem esforços dos poderes do Espírito e é, portanto, sem finalidade (MuU 1.01.07). A atividade criativa do Senhor é um mero passatempo do divino poder (Maya) sem qualquer motivo ou propósito (BS 2.01.33). Ela não é nada mais do que uma modificação aparente natural da Sua infinita e ilimitada energia (E) dentro da matéria (m) e vice e versa (E=mc2 de Einstein) feito como um mero passatempo. A criação, com efeito, relaciona-se com o Criador, a causa, como a peça de tecido está relacionada com o algodão. No caso do tecido, de qualquer forma, o tecedor não está incubado em cada fio do tecido, mas na criação a causa eficiente e material a mesma coisa, um divino mistério, realmente! Tudo no universo está conectado com tudo. A criação não é uma construção mecânica ou de engenharia. Ela é o suprema, o fenômeno espiritual revelando seu esplendor divino. A criação é feita pelo Senhor, do Senhor e para o Senhor. 

     

    -x-x-x-x-

     

    * Nota do tradutor para o Português:

     

    A versão do Bhagavad-gita de Ramananda Prasad parte contando do segundo verso deste capítulo como se fosse o primeiro. Mantive a versão original do autor, e recebi por um e-mail a resposta de que eu fizesse conforme achasse melhor. No Bhagavad-gita traduzido por Sua Santidade Swami Sivananda, e em grande parte de tradutores do mundo, aparece o seguinte verso como sendo o primeiro:

     

    Arjuna Uvaacha:

    Prakritim purusham chaiva kshetram kshetrajnameva cha;

    Etadveditumicchaami jnaanam jneyam cha keshava.

     

    Traduzindo: “Arjuna disse: eu gostaria de aprender sobre a natureza (matéria) e do Espírito (alma); sobre o campo e o conhecedor do campo, o conhecimento, e o que deve ser conhecido  (13.01)”.

     

    Entendi que este verso é necessário para que o leitor não se perca do enredo do diálogo entre Arjuna e Krishna. Apesar da pequena diferença entre uma versão e outra, isto não lhe altera o sentido, mas, gostaria que o leitor soubesse disto para não descaracterizar uma ou outra versão por causa de detalhes desta natureza.

     

    Ojasvi dasa vyasa